Assim como na apicultura, a meliponicultura é o nome dado à atividade de criação racional de abelhas, que visa aos aspectos econômicos, sociais e ambientais. A diferença está na espécie empregada. Em apicultura, são criadas abelhas africanas, introduzidas no Brasil durante o período colonial, já na meliponicultura, utilizam-se espécies chamadas meliponíneos, nativas do Brasil. Outro diferencial é que a atividade pode ser exercida por jovens, mulheres e idosos, pois não exige esforço físico e seu manejo é muito simples. É necessária a utilização de roupas especiais, na manipulação da espécie Melipona flavolineata, com o uso de um véu sobre o rosto. A meliponicultura pode ser realizada perto de residências, na cidade ou no campo, uma vez que as abelhas são extremamente dóceis e dificilmente desenvolvem comportamento agressivo.
As espécies mais produtivas são a Uruçu-amarela (Melipona flavolineata); Uruçu-cinzenta (Melipona fasciculata) Jataí ou Mosquito-amarelo (Tetragonisca angustula) (Figura 1). Ainda assim, a quantidade de mel produzida pela meliponicultura é menor em relação à apicultura, variando de 1 a 10 L por enxame por ano, três vezes menor que a produção de mel pela apicultura. Isso ocorre pelo fato destas abelhas serem mais seletivas na escolha do néctar e das flores, o que proporciona ao mel um sabor diferenciado e exótico, contribuindo para um produto de maior valor agregado. Comparado com o mel tradicional, é menos doce, mais fluido (maior umidade) e levemente mais ácido. Embora a produção de mel pelas abelhas sem ferrão seja em menor quantidade, a pouca oferta do produto e o sabor diferenciado tornam o preço até três vezes mais caro quando comparado ao mel tradicional.
Figura 1. Uruçu-amarela (Melipona flavolineata) (A), Uruçu-cinzenta (Melipona fasciculata) (B) e Jataí (Tetragonisca angustula) (C). Fonte: Adaptado de Wikimédia.
As abelhas melíponas, assim como outros insetos sociais (formigas, cupins, vespas) possuem famílias divididas em castas. Caracterizam-se por não construírem células reais, ou seja, todas as rainhas, operárias os machos, nascem e se desenvolvem, até o estágio adulto, dentro de células de cria de igual tamanho. Além disso, a entrada dos ninhos é localizada no centro, feito por uma estrutura de terra ou de resinas vegetais (geoprópolis).
Nos ninhos de abelhas melíponas, constantemente nascem mais de uma rainha, que são responsáveis pela postura dos ovos e coesão da colônia. Os machos participam pouco das atividades da colônia, tendo como função principal a cópula da rainha durante o voo nupcial. São caracterizados por possuirem uma mancha clara na face. As operárias (ou obreiras) são responsáveis pela maioria dos trabalhos como limpeza, produção de cera, alimentação da rainha, enchimento das células com alimento larval, proteção contra inimigos externos, coleta de recursos (néctar, pólen, resina, barro e fibra) e eliminação dos detritos da colônia; são mais robustas e levemente maiores do que os machos e rainhas virgens. O tempo de vida de um indivíduo adulto pode variar de acordo com o clima e o tipo de atividade que desenvolve. Uma operária do gênero Melipona vive em torno de 40 a 52 dias, já uma rainha pode viver de 1 a 2 anos.
Há duas maneiras de criação das abelhas nativas: cortar partes das árvores com o ninho, levar a peça para o local de produção e extrair o mel ou transferir o ninho da árvore para uma caixa de madeira, mais leve e fácil de manejo (Figura 2).
Figura 2. Ninho de abelha melípona transferido e já estabelecido em caixa de madeira.
Fonte: Casa do Produtor Rural (ESALQ/USP).
É recomendável que a transferência do ninho do tronco oco de uma árvore para a caixa racional é recomendável que seja feita no período matinal, para que as abelhas em vôo retornem para a nova caixa ao anoitecer. Com uma ferramenta especializada para corte de troncos de árvores, é aberta cuidadosamente uma janela no tronco para a retirada do ninho.
É extremamente importante que os favos, especialmente os mais novos (de coloração mais escura), não sofram impactos nem sejam virados de cabeça para baixo, pois corre o risco dos ovos e das larvas ficarem imersos no alimento larval, ocasionando a morte. É necessária também a atenção na posição em que o ninho deve ser colocado na caixa. As abelhas sem ferrão constroem uma estrutura de entrada no ninho, típica para cada espécie (Figura 3). Essa estrutura deve ser colocada na entrada da colmeia; caso seja danificada, pode ser usado um canudo feito com o cerume da colônia.
Figura 4. Caixa racional para criação de abelhas sem ferrão.Fonte: Casa do Produtor Rural (ESALQ/USP).
Figura 5. Vista superior dos componentes da caixa racional: tampa (A), ninho (B), sobreninho (C) e melgueira (D).Fonte: Casa do Produtor Rural (ESALQ/USP).
Figura 6. Vista frontal dos componentes da caixa racional: tampa (A), melgueira (B), sobreninho (C) e ninho (D).
A tampa tem a função de proteger e evitar a contaminação da caixa e do mel. Na melgueira ocorre o depósito do mel, porém existe uma lâmina de separação que serve para criar um andar de depósito de alimento (potes de mel e pólen). A lâmina pode ser feita de chapa fina de madeira ou acrílico e deve conter orifícios para a passagem das abelhas de um andar para outro. No ninho e sobreninho estão os discos de cria, onde ocorre a produção e estabelecimento de abelhas.
Para a criação da espécie Jataí (Tetragonisca angustula) é utilizada as dimensões de 12 x 12 x 5 cm para o ninho e sobreninho, e na melgueira 12 x 12 x 3 cm. Ainda no ninho, deve existir um orifício central com espessura de aproximadamente 0,6 cm de diâmetro para a entrada das abelhas nas caixas. O ideal é que a espessura da madeira para a confecção da caixa toda seja de 2 cm.
Para a confecção da caixa é importante verificar as condições físicas da madeira, de forma que não esteja úmida, pois podem atrair insetos, bactérias e fungos que são prejudiciais às melíponas, além disso, deve ser resistente a cupins e, se possível, não muito pesada. As melhores madeiras para a confecção das caixas são o cedro e o mogno, mas várias outras espécies florestais podem ser utilizadas, como o lourinho, andiroba, marupá, louro-faia, angelin, entre outras. Recomeda-se que seja pintada, de preferência com tinta acrílica, que é solúvel em água e bastante resistente. A finalidade da pintura é aumentar o tempo de vida útil da caixa.
É importante também o preparo de armadilhas para o forídeo, moscas inimigas naturais das abelhas e que podem atacá-las, matando-as e diminuindo a produção do ninho. Para isso, deve ser colocada no interior da caixa uma armadilha que consiste num frasco com capacidade aproximada de 40 ml contendo vinagre, de preferência de vinho tinto, com uma tampa furada, com um ou mais furos, de tal forma que permita somente a passagem das moscas. Outra armadilha deve também ser colocada na parte externa da caixa, com um frasco sem tampa contendo vinagre para que as moscas sejam atraídas pelo odor azedo e se afoguem no líquido.
Além dos forídeos, outros inimigos naturais podem prejudicar a meliponicultura. Formigas, escorpiões, lagartixas e grilos podem destruir caixas mal fechadas, assim como, tamanduás, gambás, iraras e outros mamíferos que podem atacar especialmente durante a noite. Uma das principais recomendações é manter as caixas próximas às residências, ou manter um cão de guarda nas proximidades.
A colheita do mel deve ser realizada quando se observar a melgueira quase ou completamente cheia, abrindo a tampa da caixa. Os potes de mel devem ser coletados para a extração do mel e em seguida higienizados e guardados separadamente para que possam ser devolvidos posteriormente para as abelhas. O melhor local para o armazenamento do mel é a geladeira, pois pode fermentar com facilidade, em recipientes de vidro ou plástico bem limpo e esterilizado, para não haver contaminação ou alteração no gosto do produto.
Na impossibilidade de refrigeração do mel, é recomendada a pasteurização, sendo necessário embalar o produto em potes hermeticamente fechados e imergindo em uma panela com água a 75°C por aproximadamente dez minutos. Dentro da panela é necessário que se tenha uma grade metálica no fundo para evitar que o pote fique em contato direto com o excesso da fonte de calor. A temperatura pode ser medida com um termômetro utilizado para fabricação de queijo.
Fontes consultadas
PEREIRA, F. M.; Abelhas sem ferrão: transferência de ninhos para colmeias racionais - Teresina: Embrapa Meio-Norte, 2009. 12p.
NOGUEIRA-NETO, P.; N 778v Vida e Criação de Abelhas indígenas sem ferrão. — São Paulo: Editora Nogueirapis, 1997. 445 p.
VENTURIERI, G. C.; Meliponicultura I: Caixa Racional de Criação. Comunicado Técnico da Embrapa Amazônia Oriental, Belém – PA, n. 123, p. 1-3, 2004.
VENTURIERI, G. C.; Criação de abelhas indígenas sem ferrão / Giorgio Cristino Venturieri. - 2. ed. rev. atual. - Belém, PA: Embrapa Amazônia Oriental, 2008. 60 p.
Elaborado por
Casa do Produtor Rural
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ/USP
Nome do estagiário
Luana Machado Simão
Graduanda em Engenharia Agronômica
Estagiária - Casa do Produtor Rural - ESALQ/USP
Foto de capa: Larissa Barbieri - Casa do Produtor Rural (ESALQ/USP)
Acompanhamento técnico
Fabiana Marchi de Abreu
Engenheira Agrônoma
CREA 5061273747
Casa do Produtor Rural
Coordenação editorial
Marcela Matavelli
Agente de Comunicação
DRT 5421SP
Casa do Produtor Rural
ALAN CALVET,BIÓLOGO ESPECIALISTA EM SAÚDE PÚBLICA E PROFESSOR DE BIOLOGIA A MAIS DE 15 ANOS.
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