Embora qualquer líquido que saia da vagina seja popularmente chamado de corrimento vaginal, tal denominação é usada nos consultórios apenas quando uma secreção indica anormalidade. "Isso quer dizer que, mesmo causando desconforto em algumas mulheres, a eliminação de muco é um processo natural do corpo, resultado da descamação de células de pele da vagina e do colo do útero", explica a ginecologista e obstetra Bárbara Murayama, membro da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Vale dizer, entretanto, que alguns sinais podem indicar problemas mais sérios e que cuidados diários com a higiene íntima podem agravar ou amenizar o quadro.
"Toda mulher apresenta secreção vaginal", afirma a ginecologista Arícia Helena Galvão Giribela, da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (SOGESP). Segundo ela, o que muda é a intensidade desse fluxo, que varia de pessoa para pessoa e de acordo com a fase da vida da mulher. Mulheres que passaram a menopausa e meninas antes da primeira menstruação tendem a ter menor fluxo por conta dos menores níveis do hormônio estrogênio no organismo. Durante a gestação, perto da ovulação, uma semana antes do período menstrual ou ainda com o uso de pílulas anticoncepcionais, excitação sexual, adesivos ou anel vagina a tendência é que a secreção se torne mais perceptível.
Qualquer odor é um indicador de problemas mais sérios
Segundo a ginecologista e obstetra Bárbara, assim como cada pessoa tem um cheiro característico, a secreção por ela eliminada também pode ter. "O que diferencia uma secreção normal de uma problemática é o fato de ela incomodar ou não a mulher, seja pelo odor, por conta de coceiras ou outros sintomas", explica. Mesmo que não seja agradável, seu odor não pode gerar desconforto.
"A coloração da secreção vaginal pode mudar durante as fases do ciclo menstrual", aponta a ginecologista e obstetra Bárbara. Na maior parte do tempo ela é transparente ou ligeiramente esbranquiçada, mas, no meio do ciclo menstrual, costuma ter aspecto de clara de ovo. Também é possível que ela apareça ligeiramente amarelada na calcinha por conta de reações químicas que a secreção sofre quando entra em contato com o ambiente externo.
Desde que seja confirmado que não há qualquer problema por trás da secreção vaginal, ter um fluxo mais ou menos intenso não aumenta o risco de infecções ou outras doenças. "Por outro lado, se a mulher estiver sofrendo de corrimento vaginal, então, o risco de infecções e de contrair doenças sexualmente transmissíveis aumenta", aponta a ginecologista e obstetra Bárbara.
A secreção vaginal é um processo natural do corpo de eliminação de células da pele. Assim, desde que não seja encontrado nenhum fator patológico relacionado a ela, não há razão para iniciar um tratamento. De acordo com a ginecologista e obstetra Bárbara, a secreção costuma incomodar mulheres logo após a primeira menstruação. "Acostumadas a ter a vagina mais seca, adolescentes frequentemente reclamam da secreção em sua primeira consulta ginecológica, mas esta é uma nova realidade com a qual elas devem aprender a conviver", explica. A qualquer sinal de fluxo mais intenso, entretanto, um profissional deve ser consultado.
Algumas das causas mais comuns de corrimento vaginal são infecções por bactérias, protozoários e fungos, mas o problema também pode ser desencadeado pela presença de corpos estranhos como absorventes internos ou preservativos na vagina. Reações alérgicas são outros fatores que podem favorecer o corrimento vaginal. "Em casos mais graves, o câncer de colo do útero também pode ter como sintoma o corrimento", aponta a ginecologista e obstetra Bárbara. O corrimento vaginal também pode ser sintoma de candidíase vaginal, ou uma doença sexualmente transmissível, como clamídia e gonorreia. "Caso o problema incomode a mulher, ela deve procurar um ginecologista", complementa.
De acordo com a ginecologista Arícia, absorventes diários só devem ser usados em períodos de 'crise' e após recomendação médica. "Eles aumentam a transpiração e a temperatura local, favorecendo a proliferação de micro-organismos perigosos", explica. Se a mulher se incomoda com a secreção, entretanto, uma alternativa ao uso de protetores é aumentar a frequência de troca da roupa íntima.
A ginecologista e obstetra Bárbara recomenda a higiene local diária da região íntima com água morna e sabonete específico como uma das principais medidas para diminuir o fluxo das secreções vaginais. Outra recomendação é não utilizar buchas para limpeza e usar calcinhas de algodão, que não dificultam a transpiração local. Por fim, evite o uso de lenços umedecidos, papel higiênico perfumado, desodorantes íntimos e roupas de tecido sintético.
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