Pode parecer que “está todo mundo homossexual”, e “daqui a pouco vai ser proibido ser heterossexual”, mas na realidade, não é porque só se fala hoje da lei da gravidade, que ela não existia no passado. Da mesma forma, a homossexualidade sempre existiu e sempre se manteve numa taxa incrivelmente estável: 8% da população mundial, para ser mais exato. A diferença é que a aparente tolerância da sociedade atual faz com que aqueles que no passado só podiam “sair do armário” num discreto bar em algum recanto boêmio, ou numa balada temática, agora podem ser quem são em tempo integral. Mas, eles sempre estiveram por aí. O mundo mudou, mas nem tanto.
Nem tanto mesmo. Apesar de todo o apelo midiático e tantas descobertas científicas, alguns velhos tabus permanecem. Expressões como “opção sexual”, por exemplo, ainda são ditas e repetidas até por pessoas tidas como instruídas. Talvez até você mesmo tenha dito isso, sem nenhuma má intenção. A problemática por trás dessas duas palavrinhas inocentes é que, intrinsecamente, há a sugestão de que alguém opta, escolhe livremente a sua sexualidade. Somente o fato de parecer insano alguém escolher algo que ainda desperta tanto preconceito e atitudes extremistas e extremadas do senso comum já seria suficiente para nos fazer duvidar dessa improvável hipótese. Mas, agora, a ciência também está dando uma mãozinha aos mais céticos.
Não estamos falando propriamente de um “gene homossexual”, embora já tenham revirado o DNA humano tentando acha-lo. Mas, é quase lá. Na verdade, muito se fala sobre código genético, como se apenas ele fizesse tudo. Mas não é bem por aí. Levando em consideração que o DNA está presente praticamente em todas as nossas células, como nossos órgãos poderiam atuar de formas diferentes se o DNA falasse sempre da mesma forma? Aí é que entra em campo a epigenética (epi = fora). Marcadores químicos que atuam no nosso DNA sem mudar a sua estrutura original têm a função de silenciar genes, permitindo que outros falem. É isso que faz com que com nossas células se expressem de formas diferentes, cada uma contando uma parte de uma história que esses marcadores escolhem.
É o que acontece, por exemplo, no caso da orientação sexual. Em norma, pais transmitem suas epimarcas aos filhos, e as mães às filhas. A intenção é torna-los mais sensíveis à testosterona (no caso dos meninos), ou menos sensíveis a esse hormônio (nas meninas). Segundo um estudo desenvolvido por William Rice, na Universidade da Califórnia, a homossexualidade pode ocorrer precisamente quando o inverso ocorre: pais transmitem seus marcadores genéticos às filhas, e mães aos filhos. Esta hipótese foi testada em 47 pares de gêmeos idênticos, sendo 10 deles ambos homossexuais, e nos demais, apenas um deles. Na maioria dos pares concordantes (ambos gays), essas epimarcas foram localizadas nos mesmos lugares em ambos, em 5 regiões do genoma ligadas à orientação sexual. Já nos demais, essa semelhança não se via, e a explicação para isso pode ser a mesma que justifica muitas divergências entre gêmeos: pequenas diferenças no ambiente quando ainda dentro do útero.
Pesquisas continuam sendo feitas, mas uma coisa já é fato. Ou melhor, duas. Primeiro: a natureza genética da orientação sexual. Segundo: a natureza hereditária disso. Obviamente, os cientistas não ignoram as questões sócio-culturais que também podem estar envolvidas em outros casos, por isso, não impõem essa questão como verdade absoluta. De fato, a própria ciência nunca faz isso. Bem como não atribui juízos de valor aos eventos da natureza, já que não é função da ciência julgar os fenômenos, mas sim explica-los. Resta agora saber o porquê de a seleção natural, que supostamente mantém as variações úteis à existência da vida, tem mantido por tanto tempo esta que, paradoxalmente, não seria tão útil (eu disse SERIA), já que pouco contribui para a procriação. Quem sabe? Talvez nunca descubramos a resposta. A despeito de nossa pretensa sabedoria, parafraseando o escritor Khaled Houssini, “a vida tem seus próprios planos”.
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